quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Porque beber os (caros) vinhos austríacos

Terra de brancos, a Áustria goza de ótima reputação entre sommeliers e jornalistas especializados quando o assunto é vinho. Porque, então, há tão poucos exemplares disponíveis no Brasil, que oferece a seus consumidores mais milhares de rótulos de mais de 30 países?



O “xis” da questão parece estar na relação custo-benefício. Numa apresentação, há cerca de dois meses, de vinhos austríacos promovida pela importadora The Special Wineries, especializada nos rótulos daquele país, o exemplar de “entrada” — um vinho descomplicado e jovial, para se tomar à beira da piscina, como se costuma dizer — custava caríssimos R$ 94 (preço de saída da empresa).

Independentemente da matemática usada pelas importadoras para agregar a alta carga tributária brasileira aos rótulos importados e, ao mesmo tempo, obter o seu quinhão, a verdade é que o preço dos vinhos austríacos, em sua origem, desanima boa parcela dos negociantes brasileiros. “São vinhos fantásticos, mas muito caros”, explica Guilherme Corrêa, sommelier da importadora Decanter. Após provar diversos exemplares numa feira internacional, Corrêa incluiu em 2012 o primeiro produtor austríaco, Hiedler, no portfólio da empresa, com oito de seus rótulos.

Por sua vez, o preço dos vinhos austríacos – muitas vezes superior aos dos mais destacados vinhos da Alemanha, país com o qual guarda semelhanças — também é reflexo da busca por seus exemplares. “É a lei da oferta e procura. Os melhores produtores não conseguem atender a demanda internacional”, diz Corrêa. 70% dos vinhos da Áustria (país do tamanho do estado de Pernambuco) abastece o mercado interno, e os vinhedos, pequenos, raramente ultrapassam 5 hectares.

Outras questões emperram a iniciativa de trazer rótulos da Áustria ao país. “São pouco conhecidos”, afirma Bruno Airaghi, diretor de planejamento estratégico da Interfood. “Além disso, os brasileiros têm resistência ao vinho branco”. Segundo ele, de cada dez garrafas vendidas de vinho (sem contar espumantes), nove são tintos. Somem-se a isso as regiões de nomes impronunciáveis, as castas desconhecidas (igualmente difíceis de guardar) e a associação inevitável com o vinho alemão de garrafa azul e má qualidade e têm-se a explicação para a raridade desses exemplares nas prateleiras brasileiras. “A associação com vinícolas alemãs de baixa qualidade, nas décadas e 1970 e 1980, contribuiu para que os austríacos não sejam tão populares”, diz Ricardo Carmignani, CEO da importadora Winebrands.

Mas, diante de tantos poréns, porque prová-los? Por que são muito, muito bons. “Eles têm frescor, pureza de expressão e mineralidade, além de grande capacidade de guarda”, define Corrêa.

O país tem, também, tradição – lá, o vinho é produzido desde os celtas (700 a.C.), e praticamente nas mesmas regiões. A viticultura concentra-se no leste, e o clima permite uma variedade de estilos, de tintos e brancos secos a vinhos doces – por estes últimos, a Áustria tornou-se mundialmente conhecida. Em 1985, após uma denúncia de fraude (a adição de químicos aos vinhos botritizados para torná-los mais doces), o país apertou o cerco e reformulou sua legislação, hoje uma das mais rígidas do mundo. Consciente, a Áustria concentra a maior produção de orgânicos da Europa — cerca de 20% dos vinhedos encaixam-se nesse perfil.


Para iniciar a viagem aos belos vinhos deste canto europeu, não é preciso enveredar pela sua complicada classificação (ver quadro). Basta guardar um punhado de uvas típicas — as mais interessantes — e as principais regiões produtoras. Em geral, os (poucos) produtores que chegam por aqui valem à pena, e os rótulos dos vinhos de qualidade sempre mencionam a uva e sua região de origem.

A principal variedade local é a Grüner Veltliner, que dá vinhos frescos e aromáticos, com toques apimentados, tanto leves quanto opulentos. Bons exemplares vêm, por exemplo, de Kamptal, Kremstal e Wachau, as regiões vinícolas mais ocidentais. A Áustria também produz bons Rieslings.

Blaufränkisch, Saint Laurent e Zweigelt são as variedades tintas, e alguns dos melhores rubros, cada vez mais produzidos, surgem na fronteira com a Hungria, em Burgenland, que fornece também vinhos botritizados excepcionais.

2 comentários:

Unknown disse...

Daniela,
É verdade. Nåo só aí como aqui também… o calor em SP estå o bicho!
Eu jå botei meu branquinho pra gelar!

um beijo e obrigada pela visita!

Daniela Pereira disse...

Cris,
Parabéns! Bela matéria sobre os vinhos austríacos. Gostei de saber que é a maior produção de vinhos orgânicos da Europa e que a maioria dos vinhedos é pequena, cerca de 5 hecatres. Um branco orgânico de um destes pequenos vinhedos faria meu dia mais feliz hoje no calor do Rio…rsrs
Um beijo